Segundo o historiador Evaldo Pauli em sua gigantesca Enciclopedia Simpozio, no passado da Grande Florianópolis foram notáveis os estaleiros Arataca, sob a cabeceira insular da ponte Hercílio Luz. Cita notícia de 1970: "Os estaleiros Arataca S.A. tiveram sua origem na firma Carlos Hoepcke S.A., esta fundada em 15-05-1857. Em 1895, foi adquirido o terreno, em local então denominado Arataca – onde hoje se localiza a empresa. As primeiras obras consistiram em uma carreira de madeira, para barcos de 460 toneladas, sobre as quais eram levados a uma oficina de reparos. Em decorrência dos navios “Meta” e “Ana”, adquiridos em 1896, o último de 160 toneladas, foram ampliadas as obras dos estaleiros. Entre Santos e Montevidéu era o único que reparava navios. Em 1925 instalou-se nova carreira (a atual) de concreto armado, cremalheira central e trilhos de apoio, de 150 ms., para barcos de 500 toneladas. Recebeu certa vez um navio argentino de 1800 toneladas, para atendimento de emergência. Em 1969 entrou o estaleiro para reforma, depois para uma paralisação temporária. Passou a reparar barcos, ao mesmo tempo que a construir barcos de pesca" (O Estado, 21-1-1970). Na foto, navio que foi cortado ao meio e ampliado nos estaleiros Arataca, que no início do século XX era um dos principais empreendimentos da região, gerando uma infinidade de empregos.
Espero que o amigo Nildão não tenha participado da redação ou da revisão desta “nota” aqui: http://bit.ly/9GppML - contra o estaleiro OSX em Biguaçu, embuchada com sérios problemas de falta de silogismo, valendo tanto quanto uma de 3 reais…
Ao mesmo tempo em que afirma ser o empreendimento desejável em outra região de nosso litoral, a qual “padece com maiores índices de desemprego”, em outro ponto acusa que a “criação de centenas de empregos” pelo estaleiro seria mero “fetiche” (do latim: facticius “artificial, fictício”).
Para registro, o estaleiro OSX criará MILHARES de empregos, e não centenas: 3 mil diretos durante as obras, 4 mil diretos durante a operação total e 12 mil indiretos.
A nota falseia a verdade quando diz que outras alternativas locacionais não foram levadas a sério. Estive com o diretor jurídico do Grupo EBX no Rio ainda semana passada e ele foi enfático ao dizer que Tijuquinhas, em Biguaçu, é sítio único para o empreendimento no Brasil, o melhor disponível por uma dezena de razões que elencou, sendo inviável em qualquer outro ponto do litoral catarinense, verdade que foi exaustivamente exposta durante as audiências públicas e nas mais mais de 50 reuniões realizadas com a comunidade da Grande Florianópolis. Além de Biguaçu, só mesmo o Porto do Açu, no litoral do Rio de Janeiro. Aquele alto quadro da EBX também foi de hialina clareza: não existe a possibilidade de 2 estaleiros OSX, ou é em Biguaçu ou no Porto do Açu.
Também não é verdade que o empreendimento eliminará “milhares” de empregos na maricultura, na pesca artesanal e no turismo. Não há nenhum estudo precisando tal afirmação. O que talvez aconteça é que pescadores artesanais ou empregados na pesca industrial ou na maricultura, ou quem vive do turismo de maneira eventual, como ambulantes, simplesmente empreguem-se no estaleiro se já qualificados, ou após formação e qualificação proporcionada pela própria OSX, fugindo assim da instabilidade e da sazonalidade que aquelas outras atividades representam. Recente estudo da UFSC com pescadores artesanais da Baía Norte revelou que não desejam para os filhos a vida que levam, preferindo que estudem e alcancem um emprego que lhes proporcione estabilidade econômica. É lamentável que os autores da nota sequer se tenham dado ao trabalho de ver quanto ganha um assalariado da maricutura, ou da pesca, ou do turismo de temporada, por exemplo, de ordinário empregado informal, e quanto ganhará o mais humilde trabalhador do estaleiro OSX, com carteira assinada e diversos benefícios sociais.
Os alegados impactos ambientais do empreendimento são de ordem muito inferior ao apontado pelo “achismo” de plantão e de modo algum são aqueles apontados pelo infeliz parecer do ICMBio/SC, largo em ideologismo ambiental e raso em qualidade técnica, a ponto de dizer que a carta náutica do Canal Norte da Ilha de Santa Catarina apresentada pela OSX “é de 1902″, quando este é apenas seu número de identificação aos navegantes, tendo sido atualizada recentemente.
De outro lado, a nota ir contra o desassoreamento do Canal Norte, demanda centenária da nossa região, pela qual deu a vida o jornalista Crispim Mira, revela total ausência de mentalidade marítima e enorme desprezo pela segurança da navegação e pela salvaguarda da vida humana no mar, além de posicionar quem a assina de costas para nossa vocação maior: a navegação, através da qual nossas terras foram descobertas, ocupadas, desenvolvidas e enriquecidas, através da qual somos o que somos enquanto identidade coletiva. Já teriam ouvido falar da “Empreza Nacional de Navegação Hoepcke”? Do estaleiro “Arataca”? Do “bon port” que sempre fomos? Do apelido de “baía das mil naves” que temos?
A impressão que se tem é que quem obrou tal nota caiu aqui de pára-quedas na data em que a cometeu, nada sabendo sobre nós, sobre nossa gente e nossa fome de voltar a estar em contato com os diversos povos do mundo através do mar, seja através dos navios de cruzeiro, seja através dos grandes veleiros e superiates.
Para tanto, o Canal Norte precisa ser desassoreado, revitalizado para o tráfego marítimo, e somente a OSX se propôs seriamente a fazê-lo, para desespêro daqueles que nada fazem e não deixam fazer.
Que aqueles do PT local, sem mandato e sem voto mas contra o estaleiro OSX, não queiram ser mais realistas do que seus companheiros de partido com mandato e à frente de milhares de votos, os quais apoiam o empreendimento uma vez mitigando o que tem que ser mitigado e compensando o que tem que ser compensado, para o bem de todos nós, golfinhos ou não.
Atenciosamente,
Ernesto São Thiago
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