sábado, 25 de julho de 2009

Rebatendo o conteúdo das notas "Floripa" (1) e (2) do "Informe Político" do "Diário Catarinense" de 26 de julho de 2009


As notas:Floripa (1)O assunto não é novo, mas ganhou contornos de conclamação nas palavras proferidas pelo professor e escritor Rubem Alves, no encerramento do Educasul, quando falava sobre educação e ética a cerca de mil professores no CentroSul, na sexta-feira.Os disparos do intelectual foram direcionados ao segundo presidente da República, o marechal Floriano Peixoto, que originou o novo nome da Capital catarinense, antes denominada de Desterro. Para Alves, que lançou uma verdadeira campanha, o nome instituído em 1894 a Florianópolis deveria ser banido, pois “não merece permanecer sendo castigada com o nome deste facínora”.Após quase 30 anos de Novembrada, quando estudantes e populares provocaram o então presidente-general João Baptista Figueiredo, que inauguraria uma placa para reverenciar Floriano Peixoto, Rubem Alves reacende a polêmica.

Floripa (2)O nome, na visão de Alves, deveria ser simplesmente Floripa, como a Capital é conhecida de maneira informal.Após quase 30 anos de Novembrada, quando estudantes e populares provocaram o então presidente-general João Baptista Figueiredo, que inauguraria uma placa para reverenciar Floriano Peixoto, Rubem Alves reacende a polêmica.

O email ao colunista:

Prezado Roberto Azevedo,
Minha família tem uma bela história de luta em defesa do Brasil e de Santa Catarina.
Joaquim António Santiago, meu pentavô, manezinho nascido na Ilha de Santa Catarina em 1794, foi quem, em 1819, às margens do Rio Uruguai, na condição de humilde, mas bravo, sargento do memorável Regimento Barriga Verde, realizou a prisão do general argentino Andrezito Artigas, que liderava mais de 2.000 soldados, fato que marcou o início do fim da chamada Guerra dos Artigas no contexto das Guerras Cisplatinas.
Quase 74 anos depois, um neto do sargento Joaquim, Polydoro Olavo São Thiago, meu tio-trisavô, igualmente em defesa do Brasil e, neste caso, especialmente de Santa Catarina, lideraria no Sul do nosso Estado aquela que ficou conhecida como a Revolta do Municípios, fundamental para libertar-nos da guerrilha federalista, comandada por um caudilho uruguaio, Gumercindo Saraiva, à frente de uma turba de traidores da pátria, os maragatos, que invadiu as terras catarinenses pilhando as plantações, estuprando nossas mulheres e degolando covardemente nossos homens, inclusive crianças. Pelo flanco Norte, Santa Catarina foi libertada dos federalistas sob o comando de Hercílio Luz.
Além destas barbaridades todas, os federalistas, enquanto (des)governaram o Estado com a vergonhosa conivência de traidores locais, arruinaram os cofres públicos e rasgaram a nossa Primeira Constituição de 1891, que só viria a ser restaurada em 1894, quando foram expulsos daqui. Os constituintes de 1891 são os ilustres deputados que compõem aquela majestosa tela integrante do acervo da ALESC. Entre os parlamentares retratados, estão Polydoro Olavo São Thiago e meu trisavô, também igualmente Joaquim Antônio, em homenagem ao avô dele, o meu pentavô, herói de guerra.
Após derrotarem os invasores federalistas, Hercílio Luz e Polydoro Olavo São Thiago são eleitos, respectivamente, governador e vice-governador de Santa Catarina em 1894. Porém, nenhum dos dois teria êxito contra a guerrilha sanguinária que veio do Sul - e que tantos males causou à nossa terra e à nossa gente -, sem o apoio decisivo das tropas republicanas, enviadas por Floriano Peixoto.
Para melhor ilustrar a importância de termos sido livrados dos federalistas com o apoio fundamental de Floriano Peixoto, cito o professor Evaldo Pauli, em sua Enciclopédia Simpozio, publicada na internet pela UFSC:
"Com o espírito de fronteira, ou da região Sul, os federalistas haviam passado aos métodos da degola sistemática dos chefes republicanos que tivessem a desgraça de lhes cair nas mãos. Houve degolas no Rio Grande do Sul, e também nos Estados de Santa Catarina, Paraná. Veio a desordem institucional, a autonomeação de um Governo Federal na Ilha de Santa Catarina, a degola, o empastelamento de jornais, o declínio econômico".
E reproduz o relato de um soldado federalista, degolador:
"Alguns se ajoelham, pedem por todos os santos, choram, gritam: é uma penúria. A gente tem de amarrá-los. Outros nos injuriam e levantam a cabeça como uns danados. Uma vez a bicha (a faca), cortava tanto que depois do primeiro golpe ainda a rês (a vítima), correu um pedaço com a cabeça caída para trás. E quando a bicha não tem fio é um despropósito. Vai cortando aos poucos e a rês dá berros de pôr o mundo abaixo".
Sobre os fuzilamentos em Anhatomirim, o professor Evaldo Pauli esclarece:
"Em abril de 1894, nos dias imediatos à vitória florianista, em Desterro, e durando ainda a atroz Revolução Federalista no interior do Continente, foram mandados ao fuzilamento, por Moreira César, cumprindo lei marcial, dezenas de federalistas, entre militares e chefes civis. Foi fuzilado o Presidente Lorena. Mas conseguiu escapar o Tte. Manuel Machado. Dentre os mais ilustres catarinenses, foi alcançado pela condenação o Barão de Batovi, ou Marechal Gama D'Eça, herói do Paraguai, - todavia um estimulador da Revolução federalista. E dentre os que cruzaram os caminhos de Hercílio Luz foi trazido preso de Blumenau e fuzilado, Elesbão Pinto da Luz. (...) O caso de cerca de 40 fuzilamentos de federalistas, na Fortaleza da Ilha de Anhatomirim, chocou certamente a opinião pública. O fato foi explorado pelos federalistas e seus descendentes, não raro com acrescidas deformações (...).
"Os federalistas buscaram transferir para o Presidente Floriano Peixoto as culpas do fuzilamento de Anhatomirim, sobretudo depois que se trocou o nome de Desterro pelo de Florianópolis. A afirmação contém algo de paradoxal, não somente porque nunca foi provada, como ainda porque se sabe que Floriano Peixoto impedira que os proclamadores da República fossem reprimidos sanguinolentamente no ato mesmo quando faziam a proclamação em 15 de novembro de 1889.
"Floriano Peixoto liquidou também a Revolução Federalista, que se havia especializado em degolar seus adversários. Os obscurantistas, além de haverem levado o Estado de Santa Catarina à maior anarquia, também sonhavam paradoxalmente em restabelecer a Monarquia. Infelizmente, por ação direta de Moreira Cesar, então governante militar de Santa Catarina, - valendo-se da lei marcial, - ordenou o fuzilamento dos chefetes locais dos federalistas.
"Entretanto não há provas de que houvesse neste sentido uma ordem direta da Presidência da República. Se assim fosse, a ordem se teria repetido em outros lugares da luta contra os federalistas. Mas se sabe que políticos locais influiram na nominata dos fuzilados. É possível que, se tudo houvesse dependido apenas de Floriano Peixoto, o fuzilamento de Anhatomirim não teria acontecido (...)".
"Entretanto, de tempos em tempos, não falta quem afirme o contrário, atribuindo sem provas ao idoso Presidente Floriano os fuzilamentos".
E finaliza magistralmente o ilustre professor:
"A liberdade de opinião, é um direito, mas cuide cada qual de não afirmar o que não possa provar adequadamente, e respeite sobretudo o nome de nossa Capital Florianópolis, pelo menos porque foi criado pela maioria política, de um tempo em que a liderança foi de grandes nomes, como Lauro Müller, Felipe Schmidt, Hercílio Luz, este o Governador inconfundível. Saiba-se também que literatos de bom gosto, como Cruz e Sousa e Afonso Taunay foram contrários ao nome Desterro, porque efetivamente era de mau gosto!, e não protestaram contra o novo nome que veio a ostentar, com formação erudita, Florianópolis, a polis de Floriano".

Ernesto São Thiago

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