sábado, 1 de agosto de 2015

Acolhida na Colônia de Pescadores


Acolhida na Colônia é um projeto de agroturismo vencedor. Foi criado no Brasil em 1998. 

Segundo se apresenta, é uma associação de agricultores integrada à Rede Accueil Paysan (atuante na França desde 1987) que tem a proposta de valorizar o modo de vida no campo através do agroturismo ecológico. 

Seguindo essa proposta, agricultores familiares de Santa Catarina abriram a casa para o convívio do seu dia-a-dia. 

O objetivo é compartilhar com turistas o saber fazer, as histórias e cultura, as paisagens... 

O Acolhida na Colônia oferece hospedagens simples e aconchegantes com direito a conversas na beira do fogão a lenha, a tradicional fartura das mesas dos agricultores e passeios pelo campo. 

Cientes de responsabilidade para com a natureza, pratica e promove a agricultura orgânica como base do trabalho, garantindo com isso uma alimentação saudável para as famílias envolvidas e seus visitantes.

Penso que projeto semelhante poderia ser implantado junto às Colônias de Pescadores, proporcionando às famílias de pescadores nova alternativa de renda, partilhando com o turista seu modo de vida do mesmo modo que fazem as famílias de agricultores no Acolhida na Colônia, mas com atividades em parte diferentes, em sintonia com a rotina do pescador: hospedagem na propriedade do pescador, visita guiada ao rancho sendo explicada a utilidade de cada petrecho, noções de como se trama uma rede de pesca ou a cestaria, experiência real de uma pescaria de cerco, coleta do berbigão, manejo da maricultura, aula de tarrafeio, aula de olaria, curso rápido de receitas típicas a base de frutos do mar compartilhando a mesa depois, contação de estórias, oficina de Boi de Mamão, de Terno de Reis, de Renda de Bilro, partifipar de uma Farinhada... 

São muitas as possibilidades lúdicas proporcionando o que os turistas mais buscam hoje em dia: experiências autênticas!

Ademais disso, a criação de uma rede de hospedagem domiciliar têm sido uma alternativa de desenvolvimento e manutenção das comunidades locais de maneira sustentável, como aponta estudo de caso da UFMG sobre a hospedagem domiciliar em Jericoacoara, no Ceará.

Informa o estudo que localidades onde as atividades econômicas direcionam-se para diferentes setores (pesca de camarão, peixe, artesanato, agricultura, turismo, etc.), estão propícias a um desenvolvimento econômico equilibrado, pois nos períodos de baixa estação, as demais atividades econômicas atuam mantendo a estabilidade do padrão de vida local.

E propõe um conceito de hospedagem domiciliar: “Meio de Hospedagem que tenha como finalidade primeira, a própria moradia de seus respectivos donos e que pode se aproveitar de espaço disponível para hospedar turistas, visando uma fonte de renda alternativa. O atendimento familiar e personalizado, além da manutenção da maioria das características originais do equipamento e do convívio entre os moradores constitui o maior diferencial dos demais meios de hospedagem”.

O estudo observa, muito apropriadamente, que a criação de um programa de hospedagens domiciliares pode ainda ser um catalisador para que seus membros e a comunidade local se organizem em formas de associações, discutindo e questionando ações sobre o meio ambiente, as relações sociais e a preservação da cultura local, uma vez que estes consistem os próprios atrativos para os turistas, ou seja, experiências autênticas.

Ressalta que essa atividade tem contribuído para a permanência das populações locais; a conservação de seu patrimônio construído, de elevado significado em termos arquitetônico e histórico; a sobrevivência de saberes e fazeres tradicionais; a inserção em espaços mais vastos, física, econômica, social e culturalmente (clientelas cultas, instruídas, exigentes, atentas e respeitadoras das diferenças) além de contribuir para o desenvolvimento local.

Exatamente em linha com o que imagino possa acontecer com o imaginado projeto "Acolhida na Colônia de Pescadores", o estudo da UFMG enfatiza que em um programa de hospedagens domiciliares, além de os moradores receberem os turistas em suas próprias residências promovendo uma inclusão cultural de forma bastante original, podem oferecer aos turistas informações sobre a localidade, sendo os mais indicados para contar as histórias, os causos, mostrar as festas, os monumentos importantes, falar dos personagens ilustres, estando disponibilizados livremente como numa imensa e inesgotável biblioteca viva; além de fornecer suporte logístico.

Uma importante orientação constante no estudo: o  turista que busca diretamente por uma pousada domiciliar visa um contato maior com o ambiente e com a cultura local, sendo na maioria das vezes mais qualificado e interessado nas questões da vila. Dessa forma é importante que os proprietários das pousadas domiciliares estejam cientes dos problemas da vila, como por exemplo, a questão da destinação do lixo e conflitos na vila, entre outros. Especialistas na área frisam ainda a importância dos proprietários das pousadas domiciliares estarem ligados ou entretidos com alguma atividade especial, tal como o artesanato, participação em projetos sociais ou ambientais, festas, esportes, culinária, atividades relacionadas com a cultura e economia local, enfim, essas atividades exercidas pelos proprietários dessas pousadas se tornam em um condicionante a mais para atraírem os turistas.

Parte da conclusão do estudo de caso vai no sentdo de que a exploração das características originais, que tem por peculiaridade o estilo de vida local como ferramenta de atração, acarreta em um aumento na demanda por produtos genuinamente locais, agregando valor aos mesmos.

Vale dizer que, na hipótese do futuro "Acolhida na Colônia de Pescadores", quanto mais forem preservadas as tradições do pescador, maior atratividade turística e valor agregado terão.

Daí a importância, neste contexto, de se preservar e qualificar como produto turístico nativo de grande relevância cultural o rancho de pesca e os saberes e fazeres do pescador tradicional e, claro, da gastronomia local.

Exploração da gastronomia local, promovendo a utilização de produtos regionais, agregando um maior valor aos mesmos. Essa prática caminha ainda, rumo a sustentabilidade uma vez que uma rede de parcerias é formada, garantindo uma melhor distribuição de renda. Ex: Um pescador e agricultor local pode ampliar fornecimento de produtos aos proprietários das pousadas domiciliares.

Confira o estudo completo realizado pela UFMG:


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