Paula Takahashi - Estado de Minas
Está aberta a temporada de contratações para trabalho em alto-mar. Quatro das maiores empresas de recrutamento para trabalhos em cruzeiros marítimos do Brasil estão com nada menos que 7.350 oportunidades para quem está disposto a passar os próximos seis a 10 meses a bordo. Os salários atraentes, que podem chegar a US$ 5 mil (R$ 9,2 mil), a possibilidade de percorrer vários países e a chance de viver em navios cada vez mais luxuosos parecem ser os ingredientes perfeitos para o que muitos consideram o emprego dos sonhos. Mas se engana quem acha que trabalhar em cruzeiros é moleza.
“Em dias de embarque de passageiros, eu chegava a trabalhar 15 horas, mas a média era de 12 horas diárias. É um trabalho muito puxado e já vi várias pessoas desistindo porque não aguentaram o ritmo”, conta Pedro Figueredo, administrador de hotelaria, que já trabalhou 11 meses em navios com serviços para hóspedes e como oficial de imigração. Para não cair numa fria, os candidatos aprovados devem ficar atentos ao contrato de trabalho, que tem de prever a área de atuação, salário e carga horária. “Tem empresas que assinam um pré-contrato no Brasil e o contrato oficial é finalizado no navio, mas a pessoa já tem que sair sabendo exatamente suas atividades e remuneração”, afirma Adriana Nunes, responsável pelo recrutamento da Infinity Brazil, empresa que faz o processo de seleção de 13 das principais companhias marítimas do mundo.
Quem quer embarcar nessa carreira tem que estar disposto a dividir pequenas cabines de alojamento com colegas de trabalho, ficar vários meses sem contato com a família e amigos e, acima de tudo, trabalhar muito, sem folgas, apenas com alguns turnos de descanso. O desgaste pode ser ainda maior nos períodos de Natal e réveillon, quando a turma selecionada agora deve trabalhar.
“A jornada vai além de 14 horas no dia. Mas as pessoas ganham bem e acabam não tendo onde gastar, já que ganham alojamento e alimentação e estão praticamente por conta do emprego. É uma boa chance de juntar dinheiro, mas, mesmo assim, existem muitos casos de desistência. Cerca de 50% dos brasileiros saem antes de finalizar o contrato”, afirma Marcelo Toledo, diretor-proprietário da agência de recrutamento M/Brazil. “Para mim, valeu a pena, apesar do cansaço. Consegui juntar R$ 14 mil no período, mesmo com todas as compras e passeios nas paradas. Passei por 24 países e 42 cidades da Europa e Caribe. Foi uma grande experiência”, afirma Pedro.
Momentos pelos quais a estudante de turismo Marina Fátima Muñoz também espera passar. Ela espera preencher uma das vagas em restaurante ou de vendedora que estão abertas. “Já trabalhei muitos anos em restaurantes nos Estados Unidos e Inglaterra e hoje tenho inglês e espanhol fluentes, por isso, acho que tenho o perfil ideal para trabalhar em navios e estou disposta a enfrentar todas essas dificuldades”, afirma. Experiência profissional na área de atuação e conhecimento de uma segunda língua, de preferência o inglês, são requisitos fundamentais para a conquista de uma vaga. “Tem vaga, como a de recepção, que requer fluência em quatro línguas. Cargos nos setores de hotelaria são os que abrem o maior número de oportunidades e é exigido inglês avançado. Mas para vendas e recreação, por exemplo, é necessário inglês fluente”, explica Adriana.
Ela faz o alerta para quem pretende passar por avaliações em inglês, prova oral e escrita, treinamentos e entrevista com o contratante. “Candidatos que falam que querem conhecer novas pessoas e praticar a língua estão fora. Esse não é um intercâmbio profissional, mas um emprego de fato. Já queremos pessoas prontas para esses cargos”, afirma Adriana.
Para ter ideia do crescimento do setor e do quanto tem movimentado a economia do país, somente no ano passado foram gerados 6 mil empregos diretos e mais de 30 mil indiretos. “Os navios que percorrem rotas brasileiras devem ter, no mínimo, 25% da tripulação composta por profissionais locais”, explica Ricardo Amaral, presidente da Associação Brasileira dos Cruzeiros Marítimos (Abremar). A expectativa é de que 18 navios atraquem no país até o fim do ano, com média de 700 funcionários cada um. “São quase 4 mil empregos a bordo, fora infraestrutura. Este ano, esperamos crescimento de 30% no número de rotas percorridas, o que eleva em até 15% a geração de vagas”, avalia Amaral.
Nenhum comentário:
Postar um comentário