Artigo originalmente publicado em 13 DE OUTUBRO DE 2009...
Ainda "impactada pela espetacular conquista do Brasil em Copenhague", referindo-se à escolha do Rio de Janeiro pelo COI como sede dos Jogos Olímpicos de 2016, a presidente da EMBRATUR, Jeanine Pires, fez publicar sua prestigiada coluna no Jornal Panrotas informando que se trata de oportunidade única para mostrar a cidade escolhida e todo país como "um destino turístico atraente", gerando, a partir daí, um "fluxo de turistas crescente".
Disse isto com fundamento no que ocorreu positivamente a Barcelona e deu também o exemplo dos jogos de Sidney, em 2000, na Austrália, "país que guarda grandes semelhanças com o Brasil como destino turístico - está a longa distância dos principais emissores mundiais e é alcançado principalmente por via aérea".
A presidente da EMBRATUR informou que "em pesquisas realizadas em 1998 (dois anos antes dos Jogos Olímpicos de Sidney, portanto), 45% dos americanos viajantes em potencial se diziam mais propensos a visitar a Austrália nos próximos quatro anos como resultado direto da escolha de Sidney para sediar a Olimpíada. Ou seja, o impacto da grande evidência e exposição de mídia por um longo período no desejo de viagem. A exposição na imprensa internacional marcou definitivamente a Austrália como destino turístico".
Para conquistar a condição de sede dos Jogos Olímpicos de 2016, a cidade do Rio de Janeiro, mesmo não dispondo de leitos suficientes em hotéis na quantidade exigida pelo Comitê Organizador, foi salva pela possibilidade de recepcionar transatlânticos, que suprirão esta deficiência.
Ou seja, foi justamente a Indústria dos Cruzeiros marítimos, com sua capacidade de mobilização global tão atacada por certos setores retrógados da hotelaira nacional, que salvou a candidatura do Rio de Janeiro às Olimpíadas de 2016.
Não haveria a menor viabilidade - financeira talvez, econômica de modo algum - de se construírem hotéis suficientes para fornecer leitos que ficariam, em grande parte, sem ocupação após encerrados os Jogos Olímpicos.
Segundo o portal Cyber Cruises, diante do mesmo problema, solução idêntica foi adotada com êxito em Barcelona (1992), em Sidney (2000), em Atenas (2004):
"Quinze navios de cruzeiros foram fretados para uso durante os Jogos Oímpicos de Barcelona. Enquanto o mais luxuoso era o Crystal Harmony, fretado pela Coca-Cola, Mars e Visa, outros incluíram o Club Med 1, usado pelo Comitê Olímpico Internacional; o Crwon Jewel, pela Budweiser, Seagram e Evian; o Star Clipper pela Heineken, Phillips e Audi; o Vistafjord pela revista Sports Illustrated e Time, e o Berlin pela Xerox, para citar apenas alguns. Esses 15 navios podiam acomodar 11.000 pessoas, mas como foram utilizados por algumas noites do período em um sistema de lista rotativa de convidados, hospedaram-se, de fato, até 44.000 pessoas".
"Os navios de cruzeiro também foram usados para abrigar os atletas nos Jogos Olímpicos de Sydney. Entre os presentes estavam o Fair Princess, o Seabourn Sun, o Clipper Odyssey, o Norwegian Star, o Seven Seas Navigator, o Crystal Harmony, o Deutschland e o Nieuw Amsterdam, enquanto o Capt Cook Explorer representava os interesses australianos. Alguns desses navios estiveram em Barcelona com nomes diferentes e outros eram novos".
"O participante mais famoso nos Jogos Olímpicos de Atenas, Queen Mary 2, da Cunard, que teve que ser totalmente reformado, foi fretado pelo Comitê Olímpico de Atenas para abrigar chefes de Estado e autoridades governamentais. Onze navios de cruzeiro foram capazes de acolher cerca de 13.000 pessoas ao mesmo tempo nestes jogos para atender ao pessoal da mídia, atletas e receptivo. Entre outros estavam presentes o AIDAaura, o Rotterdam, o Westerdam, quatro navios de propriedade grega, o então Olympia Voyager, Olympia Explorer, Olympia Condessa e World Renaissance, representando o país sede. O público mais seleto hospedou-se no Silver Whisper e no Silver Wind".
O mesmo portal anuncia que os Jogos Olímpicos de Inverno de Vancouver (2010) e os Jogos Olímpicos de Londres (2012) também contarão com navios de cruzeiro ofertando leitos.
O fato concreto é que Barcelona, Sidney e Atenas, após utilizarem transatlânticos como meios de hospedagem durante suas respectivas Olimpíadas, estão hoje entre os destinos de Cruzeiros Marítimos de cabotagem e longo curso mais importantes do mundo, impulsionando o segmento em toda a sua área de influência. Barcelona lidera com folga toda a Europa, Atenas o Meditarrâneo e Sidney a Oceania, movimentando em conjunto milhões de cruzeiristas anualmente, como portos de escala ou turnaround.
Causa espanto o ceticismo de alguns ao argumento de que "é impossível que as companhias de navegação, em pleno verão no Hemisfério Norte, desloquem seus navios para atender aos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, a serem realizados no mês de Julho, durante o inverno do Hemisfério Sul". Este mesmo "argumento", é utilizado para desacreditar a presença de transatlânticos na costa brasileira na Copa do Mundo de Futebol de 2014, a ser realizada no mesmo mês do ano.
Ora! O Rio de Janeiro encontra-se pouco acima do Trópico de Capricórnio, na altura do paralelo 22, enquanto que Sidney aparece bem abaixo dele, no paralelo 35 (o mesmo que corta Montevidéu, no Uruguai, e o extremo-sul da África).
Ademais disto, Sidney está a uma distância incomparavelmente maior do que o Rio de Janeiro quanto às principais rotas de cruzeiros (Meditarrâneo e Caribe), e mesmo assim a sede dos Jogos Olímpicos de 2000 recebeu diversos transatlânticos em um tempo em que havia muito menos navios disponíveis do que hoje, quando são produzidos 10 gigantes dos mares ao ano!
Costumo dizer aos céticos de plantão que eventos como as Olimpíadas ou a Copa do Mundo de Futebol são capazes de "virar o mundo de cabeça para baixo" e afirmo sem medo de errar que é isto que acontecerá quanto aos Cruzeiros Marítimos na Copa de 2014 e nos Jogos Olímpicos de 2016, desde que, é claro, as autoridades brasileiras, em todos os níveis de governo, façam a lição de casa, dotem o Brasil de um ambiente regulatório estável e de padrão internacional e implantem, em parceria com a iniciativa privada, portos turísticos modernos e adequados ao seleto público que nos visitará.
Não tenho receio de que os transatlânticos, mundialmente desejados, virão às dezenas para estes eventos esportivos de amplitude global que serão realizados no Brasil nos próximos anos. A Copa do Mundo de Futebol e os Jogos Olímpicos bastam por si mesmos como elementos de forte atração turística náutica quando realizados em países litorâneos.
O que temo são os "portos turísticos", os respectivos "terminais marítimos de passageiros" e a qualidade do receptivo que os milhares de passageiros estrangeiros encontrarão ao desembarcarem.
Há tempo para uma profunda melhoria em nossos portos turísticos, mas neste ponto, em razão da forma com que o segmento de Cruzeiros Marítimos é tratado no Brasil, o cético sou eu, pois até o presente momento não apareceu um "Plano Estratégico" para resolver amplamente, por todo o litoral brasileiro, de Norte a Sul (e não apenas em um ou dois destinos), nosos bilionários problemas estruturais, a começar pelas dragagens, como é o caso de Florianópolis, em que tudo ainda há por se fazer, mesmo a cidade figurando como o segundo destino de cruzeiros mais solicitado no Brasil.
Por enquanto todos ficaram só no discurso e nas boas intenções para a imprensa ver. Não se toca no assunto "Cruzeiros Marítimos" ao comemorar-se a realização dos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro - o que considero uma tremenda ingratidão, pois, como digo e repito, a promessa de transatlânticos, suprindo a falta de leitos nos hotéis da Cidade Maravilhosa, foi o que garantiu a esta, e a todo o Brasil, a conquista do sonho de sediar uma Olimpíada.
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