Florada do Jacatirão na Baía Babitonga
Arnaldo Claro de S. Thiago
(meu bisavô) em "Fagulhas"
Desponta a primavera! Os regatos e as fontes
deslizam, murmurando uns cânticos insontes
em mágicas surdinas.
Ao perpassar da brisa agita-se o arvoredo
e canta, a sussurar, sutil, como em segredo,
mil estrofes divinas.
As folhas outonais, levadas pelo vento,
giram doidas no ar e quedam, lento e lento,
dispersas pelo chão.
À margem dos paúes, nos bosques, nos outeiros,
mostram jacatirões eretos, sobranceiros,
soberba floração.
Surgiu Dezembro, enfim. A mater-natureza
ostenta em mil festões a ingênita beleza,
seus dons e seu amor;
acorda os estevais com os psalmos dos seus ninhos
e vem ornamentar com flores e carinhos
O berço do Senhor.
Templos e catedrais; no campo e nas cidades,
castelos senhoriais, bucólicas herdades
não têm presepe igual.
Que linda que tu és, minha terra encantada!
De flores e de sol tão catita e enfeitada
no dia de Natal!
Vastíssimo estendal de flores rubescentes
cobre toda a extensão de montes adjacentes
e da Serra do Mar
e se desdobra além, por vales e colinas,
deixando mil rasgões em meio das campinas,
ao vento, a ondular...
Dezembro explende e canta. As selvas consteladas
têm pérolas de luz em rubis engastadas:
o rócio da manhã, em gotas multicores,
irisadas, sutis, desprende-se das flores,
colorindo, esmaltando o fundo verdejante
do arvoredo a estuar de seiva exuberante.
Que formoso jardim! No centro, a Babitonga
por dunas e parcéis se estende e se prolonga,
na face de cristal os raios projetando
do sol que vai, à tarde, aos poucos se apagando...
O quadro é grandioso! Ah! Quem nos dera Rubens
o tivesse entrevisto, à hora em que, de nuvens
diáfanas, o encobre um mágico estendal
que aos poucos se adelgaça e ascende na espiral
dos cirrus matinais! Então, ao descerrar-se
a tela majestosa, ele iria prostrar-se
- alma de luz e amor - no altar da natureza
nossa terra exalçando ao trono de Princesa.
E todos estes dons estenta, aprimorados,
nossa terra em Dezembro. Em torno do eirados
mostra o jacatirão seus bouquets multicores:
alvos flocos de neve entre purpureas flores.
No dia de Natal, se aliseras lufadas
balançam da floresta as róridas copadas
embebidas de luz,
na rustica choupana em meio aso lavradores,
cai dos jacatirões uma chuva de flores
mandadas por Jesus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário